Em breve, site Trilhos do Rio !

Aguardem ... vem aí o site Trilhos do Rio, com muitas atrações e informações sobre os trilhos do estado do Rio de Janeiro !

Em breve, site Trilhos do Rio !

Informações e curiosidades sobre estações, linhas e ramais existentes, ou desativados ...

Em breve, site Trilhos do Rio !

Transportes sobre trilhos é aqui: Trem, Bonde, Metrô, VLT e muito mais !

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Participe você também ! Colabore com informações, matérias e postagens !

Em breve, site Trilhos do Rio !

E isso é só o começo ... aguardem !

segunda-feira, 18 de julho de 2016

O que é mais dificil ?

O que é mais dificil ?
Preservação histórica de linhas e de mobiliário ferroviário ?
Modernização de ferrovias ?
Reativação de linhas ?
Impulsionar o desenvolvimento do país ?
Melhorar a logística e mobilidade ?
Oferecer transporte público rápido, eficiente e ecológico ?
Transportar a população de maneira segura, agradável e justa ?

Hoje recebi imagens do amigo Bruno Tavares, correspondente da AF Trilhos do Rio em Paraíba do Sul, feitas durante uma caminhada no trecho da antiga EF Melhoramentos do Brazil, posterior Linha Auxiliar da EFCB (ferrovia já mostrada neste link), entre a Parada Inema (demolida) e a estação de Paraíba do Sul. As fotos são um misto de belezas rurais, abandono, desrespeito e indignação.






Aqui uma construção feita próxima demais do leito ferroviário





Com um pouco de planejamento e projetos decentes, além de investimento e incentivos para implantação de empresas em regiões próximas, uma ferrovia como essa, uma obra de arte, idealizada pelo mestre engenheiro Paulo de Frontin, poderia atender as localidades por onde passa, transportando carga, levando e trazendo passageiros, atraindo turistas para as várias festividades locais, enfim, o mais dificil parece ser realmente termos gente que pensa de maneira racional nesse país, gente que pensa e que pode fazer algo.

Todas as fotos foram feitas por Bruno Tavares, a quem agradeço imensamente.
 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Rio de Janeiro: o túmulo das ferrovias

O estado do Rio de Janeiro é o berço das ferrovias Brasileiras ! Aqui foi construída a primeira ferrovia do país, e por trilhos de diversas companhias se alcançava quase todas as localidades do estado e outras capitais do país, como São Paulo - SP, Belo Horizonte - MG e Vitória - ES, entre outras. Milhares e milhares de quilômetros de ferrovias, servindo à população, escoando a produção do interior para os portos do litoral ...

 Trecho da Linha do Litoral da EF Leopoldina, próximo à Venda das Pedras

Infelizmente, este texto não se aplica ao tempo atual. O estado do Rio de Janeiro, de berço das ferrovias, passou a ser o túmulo das ferrovias. Depois da desativação inconsequente, irresponsável e insensata de milhares de quilômetros através da RFFSA e sua comissão de erradicação de ramais anti-econômicos, erradicação esta que durou décadas (de 1950 à 1980), mesmo após a extinção da Rede, o extermínio de trilhos continua.

 Pontilhão ferroviário e mato por todos os lados. Linha do Litoral da EF Leopoldina

Além das linhas e trilhos, serviços ferroviários de passageiros como os trens ligando Niterói a Visconde de Itaboraí, o trem Barrinha que ligava Japeri a Barra do Piraí, o Vera Cruz (Rio de Janeiro x Belo Horizonte), o Santa Cruz (Rio de Janeiro x São Paulo), o Cacique (Rio de Janeiro x Campos dos Goytacazes x Vitória) e tantos outros, foram sistematicamente sendo desativados através da costumeira prática de torna-los inviáveis: sem manutenção, sem modernização, sem investimento, o serviço torna-se impossível de funcionar, sem segurança, sem pontualidade, sem condições. Neste meio, quase o Bonde de Santa Teresa entra também, após sofrer um acidente grave e ter o funcionamento interrompido. Devido à pressão popular, o sistema voltou e ainda funciona parcialmente.

 Por incrível que pareça, por aqui já passaram trens ligando o Rio de Janeiro à região Norte Fluminense e ao estado do Espírito Santo. Aliás, esta ERA a única ligação ferroviária entre estas regiões do estado ...

Sem um trem rodando pelas ferrovias, tanto trens de cargas como de passageiros, as vias acabam sendo pouco a pouco massacradas, invadidas, tomadas por mato e árvores, ou absurdamente tendo os trilhos e dormentes (e até a brita !) roubados. Os membros da AF Trilhos do Rio já presenciaram muitas coisas tristes, absurdas, desoladoras ... mas a cada caminhada, a cada quilômetro de linha explorado, a situação vai ficando cada vez pior.

Dia 10 de julho de 2016. Enquanto muitos assistiam à final da Eurocopa ou a qualquer outra atração pela televisão, um dos membros da AFTR percorreu sozinho o trecho da Linha do Litoral da antiga Estrada de Ferro Leopoldina e nos trouxe um verdadeiro dossiê da situação calamitosa, trágica, triste e chocante desta importante ferrovia que sucumbe a passos largos. Após chuvas fortes que arrastaram um pontilhão no bairro Engenho Velho, em Itaboraí, o trecho entre Vendas das Pedras e Visconde de Itaboraí ficou isolado. Se tem notícia apenas da circulação de veículos ferroviários (Autos de linha) no trecho após Tanguá em direção ao Norte Fluminense. De Niterói à São Gonçalo a linha foi erradicada, tendo os trilhos removidos pelo próprio governo. De São Gonçalo à Visconde de Itaboraí, diversos trechos foram removidos. Trem, Auto de Linha, Velocípede, nada circula no trecho prometido para receber a lendária Linha 3 do Metrô. Em Visconde de Itaboraí, entroncamento que recebia também a linha da Ligação vinda de Saracuruna e que levou vários anos para ser construída em terreno pantanoso e com diversas e verdadeiras obras de arte da engenharia brasileira, também não tem trilhos em boa parte do percurso já há algum tempo. Ou seja: não existe mais a possibilidade de se ligar o Leste e o Oeste do estado do Rio de Janeiro por trilhos.
Mas isso ainda não é tudo ... a situação está piorando ... a Leopoldina está agonizando. Preparem-se, tomem um calmante, e vejam as fotos abaixo:

 Em um pequeno vale, o leito ferroviário foi transformado em depósito de lixo
A estação de Vendas das Pedras, original da ferrovia. Tornou-se moradia e aos poucos vai sendo descaracterizada, apesar de mantida pelos moradores, ex-trabalhadores da RFFSA

Obra irregular afeta a estabilidade da linha

Em diversos trechos, como este, os trilhos foram cortados e roubados 


Em outros, habitações se aproximam demais da linha
Trecho sem trilhos e sendo tomado pela mata
Mais um trecho sem trilhos
Placas novas de sinalização de Passagem de Nível. Inúteis, pois não há nem trilhos, quanto mais um trem pra atravessar a estrada ...
Chegando em Porto das Caixas. O descampado ao fundo era o leito da EF Cantagalo. Em primeiro plano, a linha do Litoral da EF Leopoldina, tendo o mesmo destino da outra ferrovia ...
 Casa de turma e antiga caixa d'água da ferrovia em Porto das Caixas, próximas de onde era a estação. Em 2011 caminhamos deste ponto até Alcântara, e a situação era esta abaixo ...

Porto das Caixas em 2011
Cruzando a primeira PN entre Porto das Caixas e Visconde de Itaboraí 

 A situação não muda. A destruição se repete
 
Sem trilhos, sem linha, mas com invasões e cercas bloqueando propriedade da União


A estação de Visconde de Itaboraí. Mais abandonada do que nunca ...
 
 E além de abandonada, invadida !
 
Trecho percorrido hoje: a linha em amarelo é o percurso total. Os trechos em vermelho são onde não tem mais trilhos.


Infelizmente esta é a verdade. Estão dizimando nossas ferrovias. Cabe a nós mostrar a dura realidade, ser fortes e buscar medidas a serem tomadas para que isso se reverta. Para muitos, estamos dando murros em ponta de faca. Ok, um dia a faca quebra ...

Quero agradecer imensamente ao nosso amigo Cleiton Pierucinni pela coragem, disposição e gentileza em fornecer as imagens que compõe esta publicação. Muito obrigado.




sábado, 30 de abril de 2016

Comemorar o quê ?

30 de abril de 1854

Há 162 anos era inaugurada a PRIMEIRA ferrovia do Brasil: a  Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petropolis, mais conhecida como Estrada de Ferro Mauá. Além da implantação de um sistema eficiente de transportes de carga e de passageiros, havia a integração entre o transporte marítimo e o ferroviário, com embarques em barcas modernas em um cais na cidade do Rio de Janeiro, e o transbordo para o trem em Guia de Pacobaíba, em Magé. Algo que até nos dias de hoje não é muito comum, mas bastante eficiente para a época e hoje, uma idéia à altura de um dos maiores empreendedores da história do país: Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá.

É algo pra se comemorar ? Sim, e muito ! O Brasil entrou na era moderna com a implantação das ferrovias em solo nacional. E depois ?

Até 1958 a malha ferroviária nacional cresceu até atingir a marca de mais de 37.000 kms de linhas. E olha que nessa época várias ferrovias já haviam sido construídas e erradicadas, e muitas outras nem chegaram a sair do papel. É uma marca a se comemorar ? Sim, e muito ! E depois ?

Com a criação da RFFSA em 1957, o que era uma evolução de certa forma desorganizada teve a promessa de centralização, com a administração de quase todas as ferrovias Brasileiras sob o crivo de apenas uma companhia. Promessa de melhor administração, modernização, ampliação das ferrovias ... era algo pra se comemorar ? Sim ... mas e depois ?

Durante a gestão da RFFSA foi implantado pouco tempo depois de sua criação um Grupo de Estudos de Ramais Anti-Econômicos ou Deficitários. A função deste grupo era erradicar linhas ferroviárias consideradas não rentáveis ou obsoletas. Ao invés de se criar um estudo sério, onde ficaria claro que algumas linhas poderiam render mais se fossem modernizadas, se tivessem seus traçados readequados, se tivessem o material rodante (locomotivas, carros e vagões) renovados, simplesmente erradicaram linhas com pouco retorno financeiro (ninguém pensou na população dependente de transporte, apenas na carga que pudesse render receitas) e algumas que que davam certo retorno financeiro, foram simplesmente abandonadas, mantendo o serviço caótico, o que afastou os passageiros para outros meios de transporte. Comemorar o quê ?

Linhas e linhas foram sendo destruídas, com a promessa de nos seus lugarers construirem rodovias, o modo de se locomover do futuro. Realmente era uma previsão futurística: no futuro ficaremos presos nos congestionamentos, no futuro acidentes acontecerão causando perdas materiais e humanas, no futuro teremos prejuízos com cargas perdidas ou atrasadas ao chegar no destino ... comemorar o quê ?

As décadas foram passando, ferrovias sendo dizimadas, rodovias não foram construídas para as substituirem em alguns casos, populações foram migrando, lugarejos foram morrendo, pessoas foram perdendo o seu berço, a história de famílias sendo perdidas ... comemorar o quê ?

Dentre muitas outras, a Estrada de Ferro Rio d'Ouro, a EF Melhoramentos do Brazil, EF Príncipe do Grão-Pará, EF Cantagalo, EF Maricá e até a pioneira e preciosa EF Mauá foram sucumbindo, se acabando, abandonadas perante a um extermínio dos trilhos no Rio de Janeiro. Comemorar o quê ?

Trens de passageiros como o Vera Cruz (Rio x Belo Horizonte), o Santa Cruz (Rio de Janeiro x São Paulo), o Macaquinho (Rio de Janeiro x Mangaratiba), o Cacique (Rio x Vitória) e vários outros trens de média e longa distância foram sendo retirados de circulação. Próximo ao fim da RFFSA, um golpe de misericórdia: o trem Barrinha, que ligava Japeri a Barra do Piraí foi vítima de uma tragédia, que sepultou o serviço de vez, já interrompido algumas vezes antes pela própria RFFSA. Comemorar o quê ?

Passando o tempo, passando os meses, passando os anos, passando as décadas, a mentalidade aparentemente mudando, a mobilidade necessitando de transportes sobre trilhos, parecia que algo mudaria para melhor. E aí como não existia mais a RFFSA, que tinha sua função considerado como principal o transporte de cargas ao invés do de passageiros, foi a vez dos governos em diversas esferas fazer o seu sórdido papel, ao invés de fazer o que deveria: desorganização urbana, aglomeração populacional inadequada, má distribuição de riqueza, corrupção e desvio de verbas ... e com isso alguns trechos ferroviários foram sendo literalmente engolidos ou removidos: os trechos Santa Cruz x Distrito Industrial, Niterói x Visconde de Itaboraí, Magé x Visconde de Itaboraí, Campos x Guarus, Bonde de Santa Teresa ... comemorar o quê ?

30 de abril de 2016

162 anos depois, o que temos a se comemorar ? A expansão da Linha 1 do Metrô, conhecida por Linha 4, entre General Osório e a Barra da Tijuca ? Talvez ... a reativação dos Bondes de Santa Teresa ? Legal, pode ser. O Trem -Turístico Miguel Pereira x Governador Portela ? Quem sabe ? A implantação do VLT na zona Centro-Portuária da cidade. Legal. Mas e o sistema ferroviário/metroviário fluminense ? Está funcionando satisfatoriamente ? Certamente que não. As promessas de reativação de ferrovias históricas ou implantação de trechos turísticos sairão mesmo do papel ? Do jeito que parece, não sairão. Recentemente o fantasma de erradicação de linhas voltou, com o anúncio, da concessionária de transportes ferroviários que opera na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, de que uma das linhas poderá ter a circulação interrompida por falta de segurança para funcionar. Além de outros fatores, uma consequência de uma política irresponsável dos governos durante décadas e décadas.
Então, se nem em Guia de Pacobaíba, onde se celebra todos os anos a inauguração da EF Mauá e onde se fazem promessas de reativação; Guia de Pacobaíba, berço da ferrovia nacional; Guia de Pacobaíba, local onde está a primeira estação ferroviária do país e onde correu os trilhos pela primeira vez neste país; se nem lá houve celebrações neste dia de hoje, a pergunta que se repetiu durante todo esse texto é esta: COMEMORAR O QUÊ ? 


sábado, 19 de março de 2016

Trilhos: a volta dos que não foram !

Nas décadas de 1940, 1950 e 1960, com a implantação e incentivo à fabricação de veículos automotores (carros e caminhões principalmente), outros meios de transporte foram erroneamente "deixados de lado". Sem a modernização e manutenção necessária, os transportes sobre trilhos como os trens e principalmente os bondes, foram gradativamente sendo retirados de circulação.









Documentário sobre a erradicação dos Bondes nos Estados Unidos, dividido em 6 partes. O que aconteceu lá também aconteceu por aqui ...

Passaram os anos e décadas, e parece que FINALMENTE o país acordou para o erro cometido no passado: a extinção de milhares de quilômetros de trilhos em razão da implantação de uma política rodoviarista, que acabou por arrasar com a logística de transporte, com a economia, desenvolvimento e evolução do país. Mas não vamos comemorar pois ainda é um princípio do início do começo ...

Uma foto publicada por Trilhos do Rio (@trilhosdorio) em



Durante este período de mudança de visão, da extinção de ferrovias para a implantação das rodovias, alguns fatos curiosos vieram à tona. E quando se fala em vir à tona, isto não é força de expressão; muitas ferrovias tiveram seus trilhos retirados, mas em muito locais, eles não foram tirados do lugar ! Ou foram abandonados, largados à própria sorte tornando-se "presas facéis" de revendedores de metal para ferros-velho, ou removidos e reutilizados para diversos fins.

Uma foto publicada por Trilhos do Rio (@trilhosdorio) em



Neste último caso, entram também os dormentes: enquanto os trilhos removidos foram reutilizados como cerca de residências, vigas para construções, proteção de calçadas em esquinas ou obstáculos para estacionamentos e até bloqueio em acessos de comunidades dominadas por bandidos, os dormentes sem função ferroviária passaram também a ter vários usos, servindo até como adorno e decoração paisagística em jardins e parques.

Uma foto publicada por Trilhos do Rio (@trilhosdorio) em





Mas curiosamente, como muitos trechos de trilhos e dormentes não foram removidos, apenas ocultos, soterrados ou cobertos de asfalto, conforme foi passando o tempo eles foram ressurgindo, como "mortos-vivos" saindo de suas sepulturas.

Dormentes do antigo ramal de Tinguá da EF Rio d'Ouro, descobertos durante expedição da AFTR no trecho Cava x Tinguá, em Nova Iguaçu, em 2013. Foto: 'Dado' Eduardo P.Moreira
 

Trilhos na Praça Santos Dumont, na Gávea. Atualmente em parte da calçada, antigamente ficavam no asfalto da via. Foto: 'Dado' Eduardo P.Moreira (2016)

No decorrer de obras como as do BRT Transcarioca e adurante as obras da "Linha 4" do Metrô (expansão General Osório x Jardim Oceânico), na ocasião das escavações das ruas, os antigos trilhos de bonde apareceram. Infelizmente muitos foram removidos para a continuidade das obras, e seus destinos foram incertos.

 O pesquisador da AFTR Melekh mostra um dormente encontrado nas obras do BRT TransCarioca. Foto: 'Dado' Eduardo P.Moreira em 2014

 


Do lado direito de uma obra no Leblon, próximo às obras da estação Antero de Quental da "Linha 4" do Metrô, um trilhos de bonde ressurge. Foto: 'Dado' Eduardo P.Moreira em 2015

 Recentemente, uma dessas aparições tornaram-se as manchetes de primeira página de jornais: com a implantação do VLT - Veículo Leve sobre Trilhos (o bonde moderno) na região Portuária e do Centro da Cidade do Rio de Janeiro, muitos trilhos dos bondes antigos, com mais de 100 anos de idade, começaram a ressurgir. E muitos exatamente no mesmo traçado do atual percurso que o VLT irá passar. Ou seja: décadas depois de serem mortos e enterrados, os trilhos estão voltando, de onde nunca deveriam ter saído.

 Durante as escavações para obras do VLT, trilhos de bonde sepultados há décadas ressurgem para nos lembrar que os trilhos voltarão a dominar a paisagem da região. Na imagem, a região próxima à estação Central do Brasil.
Foto: Luiz Eduardo Rangel, em março de 2016

Que isso seja um sinal de que ainda há tempo para remediar os erros do passado. Há espaço de sobra para os trilhos: só falta consciência e boa vontade.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Razão e emoção na mesma linha

Desde o início das nossas pesquisas, em nome da competente equipe Trilhos do Rio, muitas coisas vieram à tona, muitos segredos foram revelados, muita informação foi divulgada e disseminada, frutos de intensa e determinada pesquisa em campo e em instituições históricas. Somos defensores de um sistema de transporte sobre trilhos como solução para diversos problemas, principalmente de mobilidade mas também de logística, saúde pública, desenvolvimento, equilíbrio ecológico, etc ... os benefícios são tantos, que parece até que os trilhos são endeusados ou humanizados, mas na verdade não é isso. São apenas noções lógicas de consciência. Não há exagero nem sentimentos irracionais ou preferenciais.



A população às margens da EF Cantagalo se despede do último trem a circular no trecho
Arquivo Pessoal Família Ponciano, fonte: Página Pró-memória Sumidouro


Entretanto, há algum tempo, vemos que diversas "forças ocultas" (as aspas são simbólicas, pois não são tão ocultas assim) nos espreitam, tentando acertar, seguir ou atrapalhar os nossos passos. Mas isso não nos fará sair da linha. E isso não é apenas linguagem figurada ...



Em Sumidouro, a população posa junto à locomotiva. É um último Adeus.
Arquivo Pessoal Família Ponciano, fonte: Página Pró-memória Sumidouro


Este texto e as imagens podem parecer um pouco confusos à primeira vista, mas ao final podem ler o título e verão que foi todo um resumo das sensações que passaram por nossas mentes nas últimas semanas.

 Arquivo Pessoal Família Ponciano, fonte: Página Pró-memória Sumidouro

Falar sobre sensações e momentos de objetos inanimados como trilhos e dormentes, máquinas como locomotivas, carros/vagões e trens, e unir a isso tudo momentos marcantes vividos pela população que se utilizou e beneficiou dos mesmos, podem parecer insanidade e fanatismo, mas vejamos de outra maneira, infelizmente de uma forma dramática ...

O último trem passa pela estação Murineli
 
Arquivo Pessoal Família Ponciano, fonte: Página Pró-memória Sumidouro

Na época de criação das ferrovias pelo estado do Rio de Janeiro, não houve um padrão na construção: diferença de bitolas, traçados não tão eficientes, interesses de fazendeiros e donos de terras por onde os trilhos passariam, relevo acidentado ... muito fatores influenciaram as estradas de ferro. Alguns desses fatores foram cruciais para a sua futura extinção: algumas ferrovias tornaram-se ineficientes, acabando por serem erradicadas.

Os trilhos da ferrovia sendo retirados e empilhados: a ferrovia cumpriu o seu papel.
Não pode mais, por motivos escusos.
Arquivo Pessoal Família Ponciano, fonte: Página Pró-memória Sumidouro

Muitas outras, como já foi comentado anteriormente em outras postagens, foram criminosamente "sabotadas": por diversos responsáveis, muitos trechos de trilhos foram "varridos do mapa" com a simples desculpa de que eram deficitários. Para chegar a essa conclusão e medida, simplesmente deixavam de lado a manutenção e investimento, não se modernizava e acabava por tornar-se um sistema sem condições de funcionar. A questão é que os trilhos foram enraizados na cultura Brasileira, há um certo "carinho" pelo "Trem Bão" como dizem os Mineiros, uma gratidão pelas máquinas que trouxeram progresso em praticamente todos os territórios por onde passaram. E isso de certa maneira dói no coração, é como se ao erradicar uma ferrovia que era rotina nas vidas da localidade, que ajudava até a regular os horários pela sua pontualidade, que traziam as boas e más notícias, que traziam informação e alimentos, que levavam e retornavam as pessoas e familiares queridos ... era como se estivesse sendo levado um ente querido, um parente próximo, alguém que fazia parte do seu cotidiano diário, todos os dias, e que agora possivelmente nunca mais seria visto.

 Enquanto a rodovia, concorrente em vantagem por não haver modernização da ferrovia, é construída, vê-se ainda ao lado os trilhos da desativada ferrovia.Arquivo Pessoal Família Ponciano, fonte: Página Pró-memória Sumidouro

Por isso as fotos retratadas nesta postagem nos emocionaram bastante. Não que não interpretemos os fatos pela razão, o fato é que a razão para o que ocorreu é que não faz sentido. Trens que circulavam cheios, transporte que beneficiava a população e que fazia parte da vivência local ... se algo está funcionando, pra que mudar ? Se algo não está dando certo, pode-se aperfeiçoar e torna-la novamente melhor utilizável. Então, qual a explicação para trens que "nos deixaram" como a EF Príncipe do Grão-Pará (Petrópolis), a EF Teresópolis (Teresópolis), EF Rio d'Ouro (trechos densamente povoados da Baixada Fluminense), EF Cantagalo (Nova Friburgo e cidades serranas), Linha do Litoral da EF Leopoldina (Macaé, Campos e Vitória-ES), EF Maricá (Balneários da Região dos Lagos) e tantos outros.

Um trem em Nova Friburgo fazendo uma tarefa ingrata:
enquanto se locomove, remove os próprios trilhos por onde passa.
Acervo Castro

Na época dessas erradicações, os veículos como carros e caminhões estavam sendo adotados em massa, e tornavam-se uma opção particular aparentemente mais vantajosa, havia (e ainda há) uma espécie de status por possuir um carro ... mas para ficar preso em congestionamentos, correr risco muito maior de acidentes do que numa ferrovia, não ter conforto como em alguns trens de passageiros e ainda poluir mais o ar que uma locomotiva a vapor ou a diesel ? Não vemos vantagem nisso. Estas e outras são as razões para lutarmos pelo verdadeiro desenvolvimento: transporte sobre trilhos. Pode envolver emoção, mas que nos leva à buscar e fazer predominar a razão.

Em frente a escola Arnor Silvestre Vieira em Parapeúna/RJ, os alunos foram se despedir do último trem que circulou no horário das 12 horas no dia 30/06/1970. Foi o último adeus da Maria fumaça...
Fonte: Facebook

Vejam bem estas marcantes imagens. São emocionantes, mas talvez são emoções que só quem luta pelos trilhos, quem viveu ou trabalhou nos trilhos ou que sabe que muitas soluções estão nos trilhos saberia dizer o que são estas emoções. Cenas que fazem parte de um passado que muitos de nós não vivemos, mas para quem viveu e mesmo quem não viveu essa realidade, continuaremos lutando para que muitos destes trilhos retornem.


E alguns já estão retornando ... aguardem as próximas postagens ...

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