quinta-feira, 30 de maio de 2013

Obras revelam trilhos e peças ferroviárias históricas

As obras do corredor BRT de ônibus Transcarioca tem gerado muita polêmica em vários trechos do projeto. Desde canteiros de obras mal sinalizados até desapropriações e demolições de imóveis tombados historicamente e posteriormente "destombados", as críticas são muitas em um trajeto que também poderia ser atendido satisfatoriamente por trens, uma linha do metrô ou até um VLT ou monotrilho suspenso.


Mapa mostrando o traçado do corredor BRT TransCarioca, em azul.
Ele fará a ligação por ônibus entre o Aeroporto Internacional Tom Jobim e a Barra da Tijuca.
Fonte: Site Cidade Olímpica



Bem, apesar dos problemas, as obras estão sendo executadas em dia e brevemente milhares de pessoas poderão usufruir de um transporte rápido e confortável, segundo os construtores.


Sobre imagem de satélite, o antigo e extinto ramal da Penha da EF Rio d'Ouro, com suas paradas e estações.
Imagem: Google Maps e Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")

Entretanto e curiosamente, a execução das obras tem revelado algo que estudiosos, historiadores e pesquisadores de transporte sobre trilhos já sabiam, mas que têm surpreendido a população: escavações estão desenterrando trilhos, dormentes e outras peças históricas de linhas antigas, de trens ou bondes, que passavam pela região !



Cais do Porto de Maria Angu. Nesta Praia, que foi extinta, existiram dois portos/píers. Um deles foi utilizado pela Cia.Cantareira de Barcas e pela EF Rio d'Ouro para transporte de romeiros do Santuário da Penha durante vários anos
Foto: Internet




Em Vaz Lobo, foram revelados durante escavações, trilhos da linha de bondes que atendia o bairro até a década de 1960. Segundo operários da obra, os trilhos serão retirados e expostos à população em algum local, como peças históricas. Se isso realmente se confirmar, será uma bela iniciativa.

Trilhos de Bonde no bairro de Vaz Lobo
Fotos: Marcia Almeida
Curiosamente, alguns dias depois da descoberta dos trilhos de bonde, a equipe Trilhos do Rio recebeu a preciosa informação do amigo Adriano Santana, via Facebook, de que as mesmas obras da Transcarioca estariam revelando algo com valor ainda mais raro e praticamente inédito em matéria de registros históricos: dormentes e pinos de fixação ferroviários estavam sendo encontrados durante escavações na Avenida Vicente de Carvalho. Esta avenida teve até a década de 1960 uma linha de bondes (Penha-Madureira) e no começo do século XX um ramal ferroviário da saudosa e enigmática Estrada de Ferro Rio d'Ouro, no caso o Ramal da Penha, que ligava a estação Vicente de Carvalho da sua linha tronco, até o Porto da praia de Maria Angu, às margens da Baía de Guanabara, no bairro da Penha.



Com as escavações feitas, várias camadas do terreno foram revelados. Na primeira, o asfalto da avenida. Logo abaixo, paralelepípedos. E abaixo destes, dormentes do ramal ferroviário !!!
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")
Este ramal foi muito utilizado por romeiros do Santuário da Penha, durante as festividades que ocorrem todo mês de outubro, há muitos anos. A EF Rio d'Ouro disponibilizava trens especiais nestas ocasiões, que transportavam os fiéis entre as estações iniciais (Francisco Sá ou Caju, dependendo da época) e o Largo da Penha, onde existia uma parada para desembarque.
Parte dos romeiros vinham nas barcas da Cia.Cantareira e desembarcavam no cais do Porto de Maria Angu, onde era realizada baldeação para carroças ou os trens da Rio d'Ouro que chegavam também até este cais.

No dia 30 de maio de 2013 os membros da equipe Trilhos do Rio Eduardo P.Moreira, Luis Eduardo Rangel e Carlos Alberto Ramos percorreram o trecho de aproximadamente 5kms e registraram: realmente os dormentes da antiga ferrovia, que deve ter funcionado até a década de 1930, estavam sendo desenterrados e descartados. E mais: pinos de fixação e placas metálicas de apoio também estavam no meio dos escombros. Uma destas placas, bem pesada, foi recolhida por membros da equipe e guardada, com o objetivo de preservação.



Placas de apoio para fixação de dormentes e trilhos, encontrados em lugares diferentes.
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")



Segundo um operário da obra, aparentemente entusiasta do assunto "transporte sobre trilhos", durante a obra muitos dormentes foram encontrador, retirados e removidos junto com entulho, o que é uma pena. Ao contrário dos trilhos dos bondes em Vaz Lobo, estas relíquias terão destino distinto: um aterro sanitário.

Nas imagens acima, um dormente inteiro, e outros parcialmente destruídos durante a operação das máquinas no local.
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")

Amanhã ou nos próximos dias, as escavações que continuam a todo vapor devem revelar mais e mais dormentes, mas possivelmente não deva ter mais trilhos. Estes devem ter sido retirados na época da desativação da linha, assim como os de outros ramais. Um bom exemplo foi encontrado no ramal de Tinguá, há poucos meses atrás: durante mais uma expedição Trilhos do Rio, dormentes (sem trilhos) foram encontrados no antigo leito, hoje uma estrada de barro e terra. A linha no trecho foi desativada ainda na década de 1960, mas os dormentes estão lá, como testemunhas e prova de que, ali naquela região, funcionou uma ferrovia que trouxe muito progresso á diversas regiões da cidade e da Baixada Fluminense, mas que no fim, acabou sucumbindo devido ao próprio progresso que ela ajudou a trazer.
No extinto e saudoso ramal de Tinguá, dormentes semi-enterrados teimam em provar que por ali passou uma ferrovia.
Foto: Eduardo P.Moreira ("Dado DJ")


Triste ironia, típica deste país continental e maravilhoso, que teima em renegar os trilhos e apostar nas rodovias ...

3 comentários:

Parabéns Dado e todos da equipe do Trilhos do Rio que tanto batalham pela preservação da nossa História Ferroviária! Trabalho excepcional!

Amigo DADO.

Por favor, quando puder entre em contato comigo (ou deixe seus telefones) para conversarmos sobre esses achados arqueológicos. Tomei a liberdade de copiar suas informações para anexá-las ao documento que estou escrevendo para ser enviado o mais rápido possível ao Ministério Público do Estado do RJ (MPRJ), à Prefeitura e ao IPHAN, além da Imprensa. Vou acionar também o Instituto Brasileiro de Pesquisas Arqueológicas (IBPA). As obras da Transcarioca não podem prosseguir sem Arqueologia.

Cordiais saudações,

CLARINDO
AMIGOS DO PATRIMÔNIO CULTURAL FLUMINENSE
pauloclarindo@gmail.com
(21) 2333-1378 (trab.), 2755-6801 (res.), 7399-8339 (Claro) e 9765-6038 (Vivo)
www.amigosdopatrimoniocultural.blogspot.com.br

Na verdade venho caçando esses dormentes desde as primeiras escavações na região. Sou pesquisador e organizador do Facebook denominado VILA KOSMOS, que enaltece a identidade do bairro muitas vezes definido incorretamente de Vila da Penha ou Vicente de Carvalho, razão da criação do Perfil; local onde moram ou moraram, residem ou residiram, artistas e jogadores de futebol. Um bairro tipicamente residencial e que tem história, sim! Vila Kosmos é bairro oficialemente reconhecido pelo Decreto 3.158 de 23 de Julho de 1981. Os primeiros dormentes descobri com as escavações do novo Viaduto da Penha, e foram retirados diretamente para algum vazadouro de lixo. Aguardei as descobertas de novos e fotografei muitos na Estrada (hoje, Avenida) Vicente de Carvalho e postei no Facebook; comentei com um amigo, que escreveu o Livro alusivo aos 50 anos do Mercadão de Madureira e o idealizador do salvamento do Cine Vaz Lobo da demolição, o Srº Ronaldo Martins; esse senhor criou e fundou o Instituto Histórico e Geográfico da Baixada de Irajá, que engloba esse tópico, e muito mais. Informei a ele a minha descoberta acerca dos dormentes que fotografei e postei no Facebbok, e sabem o que ele me disse, e eu não havia pensado, mas lido algum dia em algum lugar, e é fato? Os dormentes da E. F. Rio D` Ouro eram cilindricos e esses recém descobertos são retangulares, portanto de bondes! Vale a pena ouví-lo; vale a pena fazer parte da lista de amigos do Facebbok VILA KOSMOS, minha criação, modéstia a parte; vale muito mais a pena, conhecer o IHGBI (Instituto Histórico e Geográfico da Baixada de Irajá). Senhores:os dormentes, quase certos, não eram do ramal da Penha, e sim de Bondes, pois aqueles da extinta ferrovia eram cilíndricos. Abraços! LEONARDO AMORIM GOMES DE OLIVEIRA - Advogado, no Rio de Janeiro.

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