quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A falta de imparcialidade da imprensa

No dia 28 de julho de 2015, uma cena chocante marcou o ano ferroviário do país. Um vendedor ambulante foi atropelado por um trem da Supervia, após pular o muro da ferrovia, provavelmente para não pagar a passagem e poder circular e trabalhar livremente pelos trens, como sempre ocorre. Acontece que dessa vez as consequências deste ato que já se tornou cultural entre muitos, o ato de "se dar bem em cima do próximo" (no caso o próximo seria o passageiro correto que paga sua tarifa), teve um fim trágico. Atropelado por uma composição, o seu corpo foi lançado para outra linha, ficando entre os trilhos. Era horário de pico, milhares de pessoas utilizando o sistema, estações lotadas, trens abarrotados ...

 A conduta normal seria bloquear a linha e a circulação imediatamente. Mas ... já havia um trem a caminho naquela mesma linha. E aí que entra a falta de tato, a falta de imparcialidade dos órgãos de imprensa, a falta de noção e de capacidade de se avaliar uma situação. O que ocorreu de fato foi uma cena chocante: funcionários da concessionária avaliaram a altura que o corpo alcançava sobre os dormentes, e concluiram que o trem que estava na linha não tocaria no corpo caso seguisse viagem. A cena do fato também precisaria ser preservada para fins periciais. E então um funcionário autorizou e sinalizou ao maquinista que o trem seguisse sobre o corpo. E aí que começou a polêmica.

 

Fonte: Youtube/Guadalupe News

Pouco tempo depois todos os canais de imprensa estavam criticando e crucificando a concessionária, alegando violação do cadáver, desrespeito à "vida humana", sendo que a vítima (?!) provavelmente já estava sem vida, devido aos graves ferimentos facilmente vistos no vídeo na íntegra, etc ... não tiro totalmente a razão de quem fala isso, mas quis voltar a este assunto já de certa forma ultrapassado (estou escrevendo quase dois meses após o ocorrido) para mostrar como se deve portar um órgão de imprensa, um formador de opinião: deve-se sempre analisar os dois lados da história, isso é ser imparcial, ou pelo menos justo !

Durante muitos dias após o ocorrido, a imprensa assumia uma posição sensacionalista do fato
Fonte: O Globo

Antes, deixo claro que a função do Blog Trilhos do Rio não é a de defender empresa X ou Y, criticar fulano ou ciclano. O papel é sempre trazer a verdade, analisar as situações em diversos pontos de vista e contar a realidade sempre que possível. Então, continuemos ...
Trem sendo depredado em ocasião de avaria ou problema no sistema. Rotina inconsequente e inconsciente
Fonte: Porta Ternura

Digamos que a Supervia, concessionária que atualmente administra o sistema, fizesse o que quase todos reclamam: não permitisse que o trem passasse sobre o corpo. Vamos por partes então, do que provavelmente ocorreria:

1-Ambulante pula o muro da via, para embarcar em trem sem pagar a passagem (R$ 3,30!);
2-Ao alcançar a via férrea, é atingido por um trem e morre, tendo o corpo sendo lançado para a outra linha, entre os trilhos;
3-Neste momento, em horário de intenso tráfego, um trem se aproxima na linha onde está o corpo;
4-Agentes e funcionários da Supervia decidem tomar outra atitude: não permitir que o trem siga viagem;
5-Neste momento, todo o tráfego é paralisado, Trens que se dirigem à Central do Brasil param, trens que se dirigem da Central do Brasil para Deodoro, Santa Cruz e Japeri ficam parados em suas respectivas linhas, para que o trem que está na linha onde está o corpo possa retornar, manobrar no desvio mais próximo e seguir viagem por fora, na linha ao lado. Isso também poderia acarretar alguma manobra na linha por onde ele passaria, mas aí é outra história;
6-Com a paralisação do tráfego em todas as linhas, para manobra de um trem, as estações superlotam, podendo causar acidentes como queda de passageiros na linha, tumulto, confusão e consequentemente depredação de estações e mobiliário, incêndio, danos a trens e demais equipamentos, invasão da via férrea gerando caos generalizado. NÃO, não estou causando sensacionalismo, estou apenas descrevendo o que ocorre normalmente e infelizmente ...
7-Após esta manobra, o CCO (Centro de Controle Operacional) poderia organizar todo o tráfego de modo que não houvesse passagem de trens naquela linha. Algo que na hora não teria como, era necessária uma ação emergencial;
8-Findo todo este caos, com o tráfego restabelecido na medida do possível, as pessoas finalmente poderiam seguir viagem nos trens, chegando muitos minutos ou horas depois em suas residências ou destinos;
9-Quando soubessem o motivo de todo este pandemônio, ainda teriam uns e outros que iriam dizer "porque que o trem não passou por cima do corpo, que droga, atrasou tudo !"

É mentira ?

Por aí podemos ver que nem sempre o que é dito, é a total realidade. Vale a pena analisar com frieza e imparcialidade as situações. Não acho que a medida tomada tenha sido a mais correta, poderia haver um meio termo nisso tudo. Mas de qualquer forma publiquei este texto para tentar alertar sobre o sensacionalismo constante de que somos cercados todos os dias. É o que dá audiência, então nem tão cedo essa deturpação cessará ...

0 comentários:

Postar um comentário

Seguidores

Estamparia Trilhos do Rio